Troca de Ideias sobre Plano de Carreira: SEPROSC facilita diálogo entre RHs
Confira os principais insights da troca de experiências entre RHs sobre planos de carreira!
Por Carlos José Pereira, empresário do setor de TI e Diretor do Seprosc
Bill Gates afirma que prefere pessoas preguiçosas para um trabalho árduo, pois elas encontram uma maneira fácil de fazê-lo. (1)
Já vi muitas interpretações a respeito dessa afirmação, mas poucas delas levam em consideração o tipo de organização que Gates e seus pares criaram e a origem dele como profissional destacado na arte de programar computadores.
Um ditado complementa bem o que diz Gates e esclarece o fato de que muito trabalho pode ser necessário para que um trabalho árduo não seja realizado: “Certas pessoas são capazes de tudo só para não fazer nada.” (2)
Voltarei a esse assunto ao final do artigo.
A hiperautomação, a falta de mão de obra e a ênfase na produtividade
A demanda por técnicos da área de informática atinge proporções alarmantes, em especial, na área de programação de computadores. A carência desses profissionais não é novidade, mas se agravou nos últimos anos, principalmente, devido ao fenômeno da hiperautomação.
A primeira reação da sociedade à falta de mão de obra qualificada, é um incentivo à formação e qualificação de novos profissionais. Por isso, iniciativas como o Programa Jovem Programador - PJP (3), além da preocupação com a rápida inserção de jovens no mercado de trabalho, também busca chamar a atenção dos futuros profissionais para uma área em constante crescimento.
Em Santa Catarina, o PJP faz parte das respostas da sociedade à carência de mão de obra e se soma às iniciativas existentes. O Estado tem um sistema educativo bem estruturado, desde o ensino fundamental até os níveis superiores, passando por escolas técnicas e cursos rápidos de introdução de jovens no mercado de TI, mesmo assim não consegue ofertar profissionais na quantidade necessária.
No entanto, além da falta de profissionais, os empresários do setor de TI começam a despertar para outra forma de resolver o problema da demanda, um aspecto que até então tinha recebido pouca atenção: a produtividade.
A área de Tecnologia da Informação, especificamente aquela ligada ao desenvolvimento de softwares, programas e sistemas, se baseia fortemente em processos cérebros-intensivo e criatividade. Atividades como essas são mais difíceis de controlar em termos de tempo, qualidade e custos. Então, como estabelecer comparativos entre equipes e profissionais para determinar quais são mais produtivos?
Hoje, existem métodos que se baseiam em variáveis do projeto e permitem estimativas razoáveis para determinar o tempo necessário para o desenvolvimento de software.
Estes métodos, que permitem estimativas aproximadas, são muito úteis para projetos muito grandes e para organizações que necessitem contratar empresas terceiras para o desenvolvimento de sistemas. Dessa forma, prazo e custos são melhores definidos.
Ainda assim, não é raro que as estimativas de tempo e custos reais sejam incompatíveis com as previsões realizadas e, principalmente, não se pode medir a qualidade dos códigos que foram entregues. O problema com a qualidade se evidenciará em manutenções futuras desses sistemas, tardiamente, quando não se pode fazer mais nada a respeito.
Do ponto de vista dos gestores e financiadores, principalmente aqueles que não estão ligados à área de TI, “fazer programas e sistemas é muito demorado”. Sabe-se, empiricamente, que desenvolver sistemas é demorado, caro e, geralmente, entrega menos do que se espera.
Com o foco na produtividade, as perguntas que devem ser respondidas são:
Como tornar os profissionais mais produtivos?
Como fazer programas e sistemas mais rapidamente e com custos menores?
A técnica resolvendo os problemas da técnica
Uma resposta para o incremento na produtividade, na área de desenvolvimento de softwares, principalmente ligados à automação das organizações, são as plataformas denominadas Low Code (pouco código, em tradução livre).
Plataformas Low Code são ferramentas para auxiliar os desenvolvedores a criar programas e sistemas, metalinguagens. A utilização dessas plataformas não elimina totalmente a necessidade de códigos, mas permite que se entregue o mesmo sistema com menos códigos.
Como é possível fazer um mesmo programa ou sistema com menos código?
Ferramentas Low Code eliminam códigos que, em geral, se repetem em diversos sistemas, ou seja, códigos genéricos utilizados para solucionar problemas que se repetem.
A classificação de códigos em uma categoria denominada “códigos genéricos”, não implica que esses códigos sejam menos complexos que os demais, tampouco que não represente quantidade significativa dos códigos presentes em um sistema. Na maioria das vezes é o contrário, são tão complexos quanto quaisquer outros códigos e requerem muito tempo e esforço.
Estes códigos podem representar de 30% a 60% dos códigos de um sistema. Alguns sistemas têm mais benefícios que outros ao utilizarem ferramentas Low Code.
Abaixo, alguns exemplos de atividades em que as ferramentas Low Code podem ser aplicadas para melhorar a produtividade — rapidez, custo menor e qualidade igual ou superior:
Controle de usuários que acessam um sistema: segurança, restrições de acesso, autenticações e autorizações (algumas plataformas Low Code disponibilizam essas rotinas prontas);
Criação de relatórios com filtros variados. As ferramentas Low Code “conhecem os dados” e facilitam a extração de informações, com interfaces padronizadas ou de fácil construção;
Geração de gráficos e utilização de bases de dados para combinações diversas, permitindo a extração de informações variadas;
Recursos de web services;
Processos automatizados de atualizações de versões;
Criação facilitada de telas e interfaces;
Inserção de campos de dados e customizações variadas;
Compatibilidade com mais de um banco de dados: aplicam comandos otimizados para cada um dos bancos;
Integração facilitada com ferramentas de Machine Learning que, ao final, são elas mesmas ferramentas Low Code.
Utilização de ferramentas Low Code em ascensão
Low Code é um termo genérico que abrange diversas categorias e existem ferramentas específicas para diferentes áreas, porém as plataformas Low Code estão em crescimento na área de desenvolvimento de programas e sistemas.
Não se pode afirmar que essas ferramentas sejam a única solução, uma “bala de prata”, para o problema de falta de mão de obra na área de TI, mas estão entre os componentes mais importantes quando se fala em produtividade dos profissionais desenvolvedores. As previsões de receitas com essas ferramentas passaram de 9 bilhões em 2020, para 13 bilhões em 2021. (4)
As ferramentas de Aprendizado de Máquina (Machine Learning) são também ferramentas Low Code e permitem soluções que são impossíveis de serem obtidas com algoritmos tradicionais. No entanto, elas se encaixam em uma categoria nova, que pretendo explorar em outro artigo.
Voltando à frase de Gates, ao se observar as ferramentas Low Code, conclui-se que: para facilitar a atividade de construção de algoritmos e beneficiar milhões de programadores e organizações, outros desenvolvedores têm que realizar um trabalho árduo na construção dessas ferramentas.
Os programadores têm “preguiça” de realizar atividades repetitivas e enfadonhas. Por isso, alguns deles desenvolveram ferramentas que facilitam a vida desses profissionais e tornam o dia a dia mais fácil e divertido.
As ferramentas Low Code permitem que os programadores que as utilizam se dediquem à construção dos algoritmos que são específicos de uma aplicação, singulares e ligados àquela solução, em especial. Afinal, “pouco código” não significa “nenhum código”.
Criar algoritmos é divertido, mas deixa de ser quando são sempre os mesmos algoritmos para resolver os mesmos problemas.
Quando minha atividade principal era a de programação de computadores, eu detestava perder serviço. Escrever tudo novamente era o pior dos mundos; nessas situações eu tinha aversão ao trabalho, preferia o ócio e a vadiagem, termos que definem bem o que é preguiça.
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(1) "I choose a lazy person to do a hard job. Because a lazy person will find an easy way to do it."
GATES, Bill. Apud TANK, Aytekin. Bill Gates Says Lazy People Make the Best Employees. But Is Your Laziness Actually Masking a Deeper Issue?. Disponível em: <https://www.entrepreneur.com/leadership/bill-gates-says-lazy-people-make-the-best-employees/376746>. Acesso em: nov. 2022.
(2) DITADO. SÁ BORGES, Margarida. Seleções do Reader's Digest, Lisboa: Reader's Digest, edição TOMO XVII, n. 103 - dezembro, 1979, p. 60.
(3) www.jovemprogramador.com.br: curso gratuito para determinada faixa de renda familiar per capita e as inscrições para a edição 2023 abrem em 10 de dezembro de 2022.
(4) STAMFORD, Conn. Gartner Forecasts Worldwide Low-Code Development Technologies Market to Grow 23% in 2021. Disponível em: <https://www.gartner.com/en/newsroom/press-releases/2021-02-15-gartner-forecasts-worldwide-low-code-development-technologies-market-to-grow-23-percent-in-2021>. Acesso em: nov. 2022.
Publicado em: 23/11/2022 09:51:43
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