Pinhalzinho, Jovem Programador e a economia criativa

Por Carlos José Pereira, empresário da área de tecnologia, diretor do Seprosc - Sindicato das empresas de TI do Estado de Santa Catarina – responsável pela formatação do Programa Jovem Programador

Em artigo intitulado Home-office e a insegurança da informação (1), eu afirmei que na “[...] sociedade, bem como nas empresas, reações a estímulos casuais podem se converter em reformas, e essas reformas em inovações estruturais duradouras que se mantêm mesmo depois que o verdadeiro motivo já desapareceu há muito tempo.  Esse parece ser o destino do teletrabalho nas organizações. Haverá uma incorporação dessa inovação por conta de uma casualidade. A pandemia passará, mas o teletrabalho se manterá.”

Antes da pandemia da Covid-19, o normal era se pensar em trabalho presencial, pessoas desenvolvendo suas atividades nas sedes das empresas; mesmo para atividades em que a presença física fosse desnecessária. Em outras palavras, profissionais deviam se deslocar de suas casas para seus postos de trabalho nas empresas.

A pandemia escancarou, para profissionais e empresas, as vantagens e as desvantagens do teletrabalho. Essa experiência forçada permitiu, e permite, que profissionais e empresas, a seus modos, cotejem, permanentemente, os prós e os contras do teletrabalho, em avaliações extremamente individuais. O que é bom para um pode não ser bom para outro e há um ajustamento natural no mercado. Não se precisa seguir a maioria, não é um processo “democrático”, cada qual escolhe o que é melhor para suas necessidades.

Esse cotejamento permite que as partes possam diminuir as desvantagens e enfatizar as vantagens, num arranjo dinâmico que tende, a médio e longo prazos, criar um cenário muito favorável ao teletrabalho para aquelas atividades em que a presença física do indivíduo já não se faz necessária.

Sabe-se que, em quaisquer crises, oportunidades dormentes podem ser despertadas. Pode-se reconstruir o destruído da forma anterior, mas também se pode aproveitar e construir algo novo. Todos poderiam voltar à velha fórmula do trabalho presencial, mas algo novo está-se estabelecendo: o teletrabalho.

Mas em que parte o teletrabalho se liga com a economia criativa, com o Jovem Programador e com Pinhalzinho? (2)

A economia criativa e o deslocamento das oportunidades de emprego

“A economia criativa é aquela que coloca a criatividade como fator central para definir o valor de produtos e serviços. Segundo o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), são setores nos quais o valor do que é produzido está fundamentado na propriedade intelectual e em aspectos criativos.” (3)

A área de Tecnologia da Informação, mormente aquela ligada ao desenvolvimento de softwares, programas e sistemas, se baseia fortemente em processos de cérebros-intensivo, em criatividade, e, portanto, enquadra-se na economia criativa. Em outras palavras, a atividade de desenvolvimento de programas e sistemas, se baseia na principal característica da mente humana: a criatividade.

Ao projetarmos o programa de qualificação de jovens, para ensino de programação de computadores, nos igualamos em vários aspectos a muitas e excelentes iniciativas existentes, mas nos diferenciamos em dois pontos muito importantes:

  1. Ênfase no teletrabalho, sem quaisquer prejuízos para o trabalho presencial;
  2. Realização dos cursos em municípios que até então não eram considerados polos do setor de TI, embora tenhamos várias turmas também em cidades com alta concentração de empresas da área de Tecnologia da Informação.

O teletrabalho permite que se possa formar profissionais longe dos grandes polos e integrá-los em quaisquer empresas de qualquer região. Nosso mote é: “Jovens de quaisquer municípios trabalhando em empresas de quaisquer regiões”.

Em geral, o processo educativo para formação de mão de obra tão qualificada, muito bem identificada por Moacir Marafon como “cabeças de obra” (4), se dava em municípios considerados polo, principalmente naqueles em que já existiam muitas empresas de tecnologia que pudessem utilizar esses profissionais; afinal a ênfase era no trabalho presencial e esse era um comportamento normal esperado, portanto, não se desconsidera, de forma alguma, a importância desses processos de formação “tradicionais”, importantes e relevantes para o setor tecnológico, que devem continuar.

Por outro lado, essa concentração da necessidade de “cabeças de obra” em locais específicos, que levava à concentração de cursos nessas áreas, também levava a um exaurimento de profissionais, o famoso “apagão de mão de obra”, principalmente devido ao crescimento constante do setor de TI. Esses municípios não conseguiam gerar profissionais no ritmo em que precisavam.

Enquanto sobram vagas em diversas empresas, jovens potencialmente aptos a se integrarem na área de TI penavam, e penam, em municípios em que essa opção inexiste. Os jovens que mais ficam de fora dessas oportunidades são aqueles pertencentes a famílias de baixa renda, que não podem se deslocar para outros municípios.

Pinhalzinho

Ao se deslocar o ensino com programas aceleradores, de curta duração, para introdução rápida de profissionais na área de tecnologia da informação, para municípios antes esquecidos por programas semelhantes, está se criando um movimento que permite reflexões interessantes em várias dimensões, e destaco algumas:

  1. A primeira dimensão é a social. “70% dos jovens brasileiros têm dificuldades para encontrar vaga de emprego” (5). Programas como o Jovem Programador tem como missão qualificar, mas também ligar esse jovem com as empresas em que as vagas estejam disponíveis;
  2. A segunda dimensão é a econômica. Se empresas não conseguem atingir seus potenciais de crescimento por falta de profissionais, sofrem as empresas, os municípios e o estado;
  3. A terceira dimensão é o desenvolvimento econômico de municípios antes excluídos desse importante setor, TI, pertencente à economia criativa. Órgãos da municipalidade que se dedicam a causas sociais e à geração de empregos na cidade, têm agora mais uma opção interessante e de futuro garantido. Podem criar as condições necessárias para que jovens sejam qualificados para a área de Tecnologia da Informação. Os benefícios são evidentes, pois além dos empregos, da melhoria da qualidade de vida das pessoas, podem contar com uma nova injeção de recursos, via bons salários auferidos por profissionais, que movimenta vários negócios. Todos ganham. Não se criam empresas de TI no momento, mas certamente essas empresas serão atraídas no futuro. Esses jovens iniciantes de hoje serão os futuros empreendedores, futuros donos, ou sócios, de startups, que podem se transformar em importantes pagadoras de impostos, principalmente o ISS. Tudo isso, sem quaisquer prejuízos para os municípios em que as empresas empregadoras estejam instaladas, pois o crescimento delas também representa movimentação econômica importante para os municípios sede.
  4. A quarta dimensão é a necessária oferta de profissionais. Empresas de TI de todo o estado passam a ter mais conforto para desenvolvimento de seus projetos, pois terão mais profissionais à disposição.
  5. A quinta dimensão é o aumento da qualidade dos profissionais. Ao se ampliar a base de profissionais de TI, têm-se maior probabilidade de um aumento na qualidade técnica, e de conhecimento, desses profissionais. Muitos jovens, hoje esquecidos e marginalizados, serão futuros “gênios” da área, futuros empreendedores. A criatividade presente nos sistemas psíquicos não é exclusividade de nenhuma classe social, não respeita sexo, gênero e nem etnia.

Se você perguntar para prefeitos de quaisquer municípios de Santa Catarina, principalmente aqueles prefeitos de cidades pequenas e médias, se eles gostariam de ter uma empresa se instalando na cidade, gerando muitos empregos de salário médio muito bom, uma indústria 100% limpa, tenho certeza de que todos fariam o possível para conquistar essa organização. Os efeitos na arrecadação de impostos, na geração de empregos e no movimento econômico que esses assalariados provocam na economia local, são buscados por gestores públicos municipais.

Em outras palavras, agora os prefeitos não precisam ter as empresas, mas podem ter todo o resto. Empregados com bons salários e movimento na economia local que propicia crescimento de outros empreendimentos com consequente aumento na arrecadação dos impostos. Todos ganham.

Agradeço a Elisabete Jussara Bach, empresária da área de TI de Pinhalzinho, diretora do Seprosc, que se empenhou bravamente nesse projeto, e parabenizo a prefeitura, a câmara de vereadores, a ACIP e a Horus Faculdades, pela cooperação que demonstraram ao se empenharem para que o programa Jovem Programador pudesse ter sua turma em Pinhalzinho. São 30 jovens que, de forma gratuita, aprenderão as técnicas de programação e serão inseridos nesse importante setor da economia, com benefícios para todos.

Logo que os prefeitos perceberem que podem inserir seus municípios nessa forte área da economia criativa, que cresce em todo o mundo, certamente nossa meta de oferecer ao mercado 2.500 profissionais por ano será atingida, com potencial para ampliação. A demanda por profissionais é alta e a oferta ainda precisa ser aumentada. Não se faz referência somente ao estado de Santa Catarina, mas ao Brasil e ao mundo.

O programa Jovem Programador está aberto para indicar como essas aulas podem atingir municípios que antes se consideravam excluídos, ou como ampliar turmas naqueles em que já está em operação.

Veja vídeo de jovens que já estão mudando suas vidas através do Programa Jovem Programador. 

(1) PEREIRA, Carlos José. Home-office e a insegurança da informação. Disponível em: . Acesso em: jul. 2022.

(2) Utilizo Pinhalzinho, pois de lá vem um bom exemplo, mas poderíamos colocar aqui o nome de muitos municípios catarinenses que podem se beneficiar de um setor importante da chamada economia criativa.

(3) Afinal, o que é a economia criativa? Disponível em> . Acesso em jul. 2022.

(4) MARAFON, Moacir. A importância da formação e da atração de talentos para o ecossistema de empreendedorismo e inovação; In: LEIPNITZ, Daniel; LÓSSIO, Rodrigo. Ponte para a inovação: como criar um ecossistema empreendedor. Florianópolis: Santa, 2021, p. 97.

(5) 70% dos jovens brasileiros têm dificuldade para encontrar vaga de emprego. Disponível em: < https://cultura.uol.com.br/noticias/27182_70-dos-jovens-brasileiros-tem-dificuldade-para-encontrar-vaga-de-emprego.html >. Acesso em jul. 2022.

(6) LAIDENS, Rúbia. Programa quer capacitar programadores de sistemas em 19 cidades de SC. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/10490368/. Acesso em: jul. 2022.

(7) Jovem Programador. Disponível em: . Acesso em: ago. 2022. [Contato@jovemprogramador.com.br] [Fone 47-99184-4928] [@programa_jovemprogramador]

(8) SEPROSC. Disponível em:. Acesso em: ago. 2022. [seprosc@seprosc.com.br] [(47) 3037-4932/3037-4293] [@seprosc_sc]

Publicado em: 02/08/2022 14:45:20

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